sábado, 29 de agosto de 2015

1983 - Pra Frente Brasil

       
 Pra frente, Brasil é um filme brasileiro de 1982 (censurado e lançado novamente em 1983), dos gêneros drama e ficção histórica, dirigido e escrito por Roberto Farias, baseado em argumento de Reginaldo Faria e Paulo Mendonça. Estrelado por Reginaldo Faria, Antônio FagundesNatália do Vale e Elizabeth SavallaPra frente, Brasil foi um dos primeiros filmes a retratar a repressão da ditadura militar brasileira (1964–1985) de forma aberta.

SINOPSE: 

          Em 1970, na época dos anos de chumbo e do dito "milagre econômico", o Brasil vibra com a Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo sediada no México. Enquanto isso, prisioneiros políticos são torturados por agentes da repressão oficial e inocentes também acabam sendo vítimas dessa violência.
          Jofre Godoi da Fonseca é um pacato trabalhador de classe média, casado com Marta, com quem tem dois filhos. Miguel, seu irmão, goza dos mesmos privilégios que ele, apesar de amar Mariana, uma guerrilheira de esquerda. Quando Jofre divide um táxi com um militante de esquerda, é tido como "subversivo" pelos órgãos de repressão. É preso e submetido a inúmeras sessões de tortura.
          Miguel e Marta tentam encontrá-lo através dos meios legais, mas se deparam com a relutância da polícia em investigar o desaparecimento. Com o telefone grampeado, Miguel recebe Mariana em casa, ferida após um fracassado assalto a banco. É quando ele fica sabendo da atuação de um grupo de repressão política patrocinado por empresários.

          Enquanto isso, Jofre consegue fugir de seu cativeiro, mas é alcançado pela Veraneio de seus algozes, que assistiam à cena escondidos. Barreto, o chefe dos torturadores sai do veículo e vai pessoalmente verificar o estrago que seus homens haviam feito em Jofre. Cumprido o dever, retornam ao cativeiro onde, por conta das torturas sofridas, o inocente acaba morrendo ao som dos gols do jogo Brasil versus Itália e da marchinha do tricampeonato, "Pra frente, Brasil".


ELENCO: 
Reginaldo Faria - Jofre
Antônio Fagundes - Miguel
Natália do Vale - Marta
Elizabeth Savalla - Mariana
Carlos Zara - Dr. Barreto
Cláudio Marzo - Sarmento
Neuza Amaral
Ivan Cândido
Flávio Migliaccio
Milton Moraes
Luiz Armando Queiroz
Irma Álvarez
Lui Farias
Maurício Farias



CONTEXTO HISTÓRICO:

          O filme retrata o auge da repressão a opositores durante a ditadura militar brasileira, no governo de Emílio Garrastazu Médici. Indicadores econômicos favoráveis, durante o chamado "milagre econômico", divulgados por uma mídia completamente censurada, maquiavam o aumento da concentração de renda e da pobreza, instaurando no país um sentimento extremamente ufanista, que atingiu seu auge com a conquista do terceiro título da Copa do Mundo de Futebol pela Seleção Brasileira no México. O título do filme é uma referência à canção de mesmo nome, escolhida pelo regime para representar o país no Mundial de 1970.
          Conforme Élio Gaspari relatou em seu livro A Ditadura Escancarada, trata-se de um período paradoxal da História do Brasil: "o milagre brasileiro e os anos de chumbo foram simultâneos. Ambos reais, co-existiam negando-se. Passados mais de trinta anos, continuam negando-se. Quem acha que houve um, não acredita (ou não gosta de admitir) que houve o outro".

PRODUÇÃO:
          Pra frente, Brasil foi inicialmente censurado pelo regime, apesar de seu diretor, Roberto Farias, ter sido presidente da Embrafilme no auge da ditadura, e o país estar à época em plena redemocratização. A censora do regime, Solange Maria Teixeira Hernandes, afirmava haver "excessos de liberdade no cinema e no teatro" na época em que o filme foi lançado. O filme foi liberado pela Justiça e estreou, em versão sem cortes, em 14 de fevereiro de 1983. À época presidente da Embrafilme, Celso Amorim viu-se obrigado a abandonar o cargo da estatal em abril de 1982 por ter aprovado o financiamento público para a produção. A proibição inicial ao filme baseou-se na alínea D do artigo 41 da Lei 20.943, de 1946, que previa "interdição quando a obra for capaz de provocar incitamento contra o regime vigente, a ordem pública, as autoridades e seus agentes".
          Reza a lenda que Pra frente, Brasil teria sido inspirado em um acontecimento real, vivido pelo protagonista Reginaldo Faria. Certo dia, ao cochichar de brincadeira que "portava uma arma" para uma mulher na fila do aeroporto do Galeão, o ator teria sido levado para a sala de interrogatório. Do susto, nasceu o argumento Sala Escura, transformado pelo irmão Roberto no roteiro do longa. A história do filme, entretanto, é similar a do filme erótico E agora, José?, clássico do chamado "cinema boca do lixo" estrelado por Arlindo Barreto e lançado três anos antes.
         O ator Carlos Zara inicialmente recusou o papel do torturador Barreto por ter tido seu irmão, Ricardo Zaratini, preso e torturado em 1969. Outro paralelo que o filme faz com a realidade diz respeito ao assassinato do empresário vivido por Paulo Porto, uma referência ao fuzilamento, em 1971, de Henning Albert Boilesen, industrial acusado de patrocinar a Operação Bandeirantes.



ANÁLISE:
        Pra frente, Brasil foi lançado no mesmo ano que Missing, de Costa-Gavras, filme denunciando as violações aos direitos humanos praticadas pela ditadura do general Augusto Pinochet no Chile, e, por esta razão, foi muito comparado ao cinema político de Gavras. Farias recusou tais comparações em entrevista à Veja de 16 de fevereiro de 1983, dizendo que Gavras lhe parecia um "cafetão das esquerdas", por morar em Paris e tratar de realidades distantes à sua.
         Há quem defenda que o filme "inocenta os militares" que praticaram violações aos direitos humanos no regime, por mostrar os torturadores como integrantes de grupos à margem do Estado, financiados por empresários. Outros, por outro lado, defendem que "contornar o enfrentamento" foi a "saída inteligente para dizer o que precisava ser dito".

PRÊMIOS E INDICAÇÕES: 
        De acordo com o site Internet Movie Database, o filme Pra frente, Brasil recebeu cinco importantes prêmios em festivais de todo o mundo. Os dois primeiros foram os de melhor filme e edição no Festival de Gramado de 1982, seguidos pelos prêmios de Ofício Católico do Cinema e da Associação dos Cinemas de Arte da Europa no Festival de Berlim do ano seguinte. O filme também recebeu a Margarida de Prata da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, além de ter sido indicado ao Urso de Ouro em Berlim.

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