sábado, 11 de fevereiro de 2012

Entrevista antes de Começar de Novo!


É difícil assistir ao meu trabalho" , diz do Valle

De uns tempos para cá, Natália do Valle começou a se orgulhar do "recado" que suas personagens têm dado ao público feminino. Primeiro, foi a matriarca Dulce, de Aquarela do Brasil, que dava um basta no casamento ao descobrir que era traída pelo marido, numa época em que a atitude normal seria fingir que nada aconteceu. Depois veio a fogosa Sílvia, de Mulheres Apaixonadas, que vivia um casamento sem-graça e decidiu exercitar a sensualidade com o namorado da empregada.


Atualmente, Natália é Letícia, a protagonista de Começar de Novo, que passou 30 anos apaixonada pelo "falecido" namorado da juventude. Mas a atriz enxerga nela muito mais que a típica mocinha. "Ela é doce e romântica, mas, ao mesmo tempo, batalhadora e bem-sucedida. Consegue equilibrar vida pessoal e profissional, não é uma dona-de-casa bobinha", defende Natália, esbanjando convicção.


Aos 53 anos e com alguns papéis centrais no currículo, a atriz não vê diferença entre interpretar uma protagonista ou outra personagem qualquer. "A não ser que se grava muito mais", ressalva, entre risos. Já viver a mocinha da história é uma tarefa que ela julga bem complicada. "Elas são mais lineares e não chegam a mobilizar tanto a platéia. As pessoas torcem mesmo é para que os vilões se dêem mal", acredita Natália, que deixa entrever uma pontinha de inveja do papel de Marcos Paulo, o intérprete de Miguel Arcanjo, o grande amor de Letícia. "Ele pode ser o bom e o mau num só: o homem apaixonado, obstinado, dedicado, ou aquele que veio para se vingar de todo mundo, que não perdeu o ressentimento", avalia, com brilho nos olhos.


Como grava de segunda a sábado e usa o tempo livre para estudar os textos da trama, Natália diz que ainda não pôde conferir a reação do público nas ruas. Mas acredita que Letícia será recebida com carinho. "O lado bom de fazer a mocinha é justamente a energia positiva do público", julga, sem esconder a vontade de voltar a viver uma vilã. "Terei outras oportunidades. Por enquanto, vou só sofrer nas mãos dos vilões", conforma-se, cheia de bom humor. Leia a seguir a entrevista com a atriz:

 ENTREVISTA

P - Interpretar a protagonista da história faz diferença?
 
NV - Não faz diferença nenhuma. Já transcendi esta história de ser protagonista. Já fiz várias protagonistas jovens, fiz protagonistas menos jovens, protagonistas maduras. O que acho importante é ter um bom personagem. Em Mulheres Apaixonadas, por exemplo, minha personagem não era protagonista, era de uma história paralela, e para mim foi tão boa quanto personagens centrais que já tinha feito. A única coisa que muda é que, como protagonista, você acaba gravando mais, tem mais trabalho, mais cenas para decorar. Mas até isso é relativo, porque, às vezes, uma personagem paralela cresce tanto que acaba gravando mais que a protagonista. E aí não faz mais diferença nenhuma. O bom é ter bons personagens, bons autores. Aí você deita e rola, é a glória.

P - Para você, o que faz da Letícia uma boa personagem?
 
NV - Acho interessante porque ela não é só a dona-de-casa bobinha, é uma mulher que faz tudo. Ao mesmo tempo em que é doce e romântica, é forte, batalhadora e bem-sucedida. Ela consegue equilibrar muito bem vida pessoal e vida profissional. Para mim, uma personagem é sempre boa quando consegue passar alguma coisa de positivo para o público. E ela tem isso. Acho que esta necessidade de se dividir entre família e trabalho é o ponto que move as mulheres hoje em dia. Todas nós temos isso em comum. Eu mesma não me identifico muito com a Letícia, mas tem este ponto: como eu, ela também está na luta há muito tempo.

P - Foi difícil conferir verossimilhança a uma paixão que resiste com intensidade a 30 anos de separação?
 
NV - Olha, eu acho que este amor da Letícia e do Miguel pode ter pelo menos dois desdobramentos dentro de uma proposta absolutamente realista. Acho perfeitamente possível você reencontrar um amor 30 anos depois e resgatar o relacionamento de uma forma verdadeira e legítima. Como também é possível que seja apenas um amor que foi interrompido num momento em que estava muito no começo e deixou uma sensação de perda, de algo que foi roubado, que não foi vivido, esgotado. Então, é uma coisa que pode acontecer com qualquer um. E o autor pode explorar este relacionamento de diversas maneiras. Acho que seria completamente verdadeiro eles se reencontrarem e serem muito felizes, mais até do que seriam se tivessem se relacionado desde a juventude. Como também seria possível se constatar que foi um amor que ficou no passado, e aí ela se livrar deste carma, deste pesadelo que é um amor antigo que não se concretizou.

P - Mas, no caso dela, não é só um reencontro com um grande amor. Ela passa 
 30 anos sofrendo por aquele homem...
 
NV - É, mas isso é porque ela é a mocinha da história, e as mocinhas são mais lineares mesmo. É claro que, neste sentido, é um trabalho mais difícil que os outros. As heroínas sempre despertam a simpatia das pessoas, mas não mobilizam tanto a platéia. Na verdade, todo mundo torce mesmo é para que os vilões se dêem mal. O lado bom da mocinha é que vem sempre uma energia muito positiva do público. Mas o papel dela é sofrer muito mesmo. Nesta novela, por exemplo, olha quanta gente pode fazer maldades com ela: o próprio Miguel pode estar querendo apenas vingança e pode reconquistá-la só para provar ao Anselmo que é capaz de fazer isso, o Anselmo pode fazê-la sofrer, a Lucrécia sempre a faz sofrer. É este o meu papel agora: sofrer nas mãos dos vilões da história. Mas é bom passar por isso. 
P - Você costuma criticar muito o próprio trabalho?
 

NV - É sempre difícil assistir ao meu próprio trabalho, mas acho muito importante. Só assistindo a gente tem a chance de melhorar algumas coisas que precisam ser corrigidas. Como a tevê exige muita técnica, às vezes na emoção você está até muito bem, mas tecnicamente aquilo não favorece a cena. Noutras vezes, é exatamente o contrário: você acha que a cena não está boa, mas tecnicamente ela está tão bem que você, sem perceber, passa toda a verdade, toda a emoção que a situação exige.
 
P - Como tem sido a dobradinha com o Marcos Paulo?

NV - Trabalhar com ele é maravilhoso. Estou há tantos anos na Globo e um dos primeiros programas que fiz na emissora foi Ciranda, Cirandinha, no qual ele também atuava. Depois fizemos juntos um episódio do Você Decide que também foi ótimo, tivemos uma afinidade grande. E agora é uma novela, um trabalho mais longo, mais aprofundado. Fiquei muito feliz de ter sido convidada por ele como diretor e estou encontrando muitas afinidades com ele como ator neste trabalho.

P - Você teve alguma inspiração especial na composição da Letícia?

NV - Eu não costumo me preocupar muito com esta história de inspiração quando estou fazendo novela, porque nunca se sabe exatamente o que vem pela frente. Posso imaginar a personagem de um jeito e ao longo da trama ela se transformar em algo completamente diferente do que eu tinha imaginado. Com a Sílvia, de Mulheres Apaixonadas, aconteceu exatamente isso. Sorte a minha que a surpresa foi boa. Assim que recebi a sinopse, veio um clichê de novela na minha cabeça. Imaginei aquela mulher ali, com um marido indiferente, a filha se casando, ela se sente sozinha e acaba se envolvendo amorosamente com o namorado da empregada. Mas veio uma coisa completamente diferente: uma relação sem envolvimento amoroso, na qual ela seduzia, ela dava em cima. Quando vi aquilo, pensei: "Isso vai ser um espetáculo!". E deu certo, porque peguei um canal da sensualidade, da brincadeira, da comédia, foi ótimo. Então, eu sempre acho que, em novela, a gente deve trabalhar com a observação, com a improvisação e com o texto que a gente recebe todo dia, porque é uma descoberta que vai se revelando aos poucos. 

P - Alguma vez você chegou a pensar que não teria papéis tão bons na maturidade?
 

NV - Eu ouço muito as pessoas falarem que não há bons papéis para atrizes depois dos 40 anos. As próprias atrizes falam muito isso. Mas eu acho que sempre houve bons papéis para mulheres na faixa dos 40 ou 50 anos. Em 1981, fiz Baila Comigo. Eu era a mocinha, mas o grande papel era a mãe do mocinho, interpretada pela Lílian Lemmertz. Recentemente, a Christiane Torloni protagonizou Mulheres Apaixonadas, a Regina Duarte fez Por Amor, a Vera Fischer era a atriz principal de Agora é que São Elas... Na verdade, acho que a tevê valoriza muito a juventude e, por isso, há muito mais papéis para jovens. Mas os bons papéis naturalmente não são dos mais jovens. Os bons papéis são os que mobilizam a atenção do público, os que mostram conflitos de mães com filhos, de mulheres com maridos... Ninguém tem muitos conflitos aos 15, ou aos 18 anos. Você começa a acumular seus conflitos quando já tem uma trajetória de vida de pelo menos uns 30 anos. São as histórias destas pessoas que vão ser as mais marcantes.
 
                                        Uma personagem no caminho
Quando estreou na televisão, em 1975, Natália do Valle já tinha participado de alguns espetáculos teatrais de grupos amadores no Rio de Janeiro, mas ainda não estava decidida pela carreira de atriz. Tanto que, depois de fazer uma ponta como Aurora em Gabriela e participar de mais duas novelas, A Moreninha e Saramandaia, ela se mudou para São Paulo e resolveu cursar Filosofia. Mas não passou muito tempo longe da interpretação. Em 1980, a carreira de Natália ganhou projeção nacional com Água Viva, de Manoel Carlos e Gilberto Braga. Depois daí, ela não parou mais. Hoje, contabiliza quase 20 trabalhos na Globo, emissora na qual sempre atuou.
A atriz é do tipo que prefere não apontar suas personagens prediletas. "Escolhendo, a gente corre o risco de cometer injustiças", justifica. Mas, aos poucos, deixa entrever algumas pistas. "Adoro vilã", confessa Natália, lembrando Andréa, de Cambalacho. "Ao mesmo tempo em que era muito má, tinha muitas cenas de comédia. E o texto era maravilhoso", derrama-se.
A atriz também não esconde o carinho por Sílvia, da novela Mulheres Apaixonadas. Fazia tempo que ela ansiava por um reencontro com o autor Manoel Carlos. Depois da boa repercussão de Água Viva, os dois fizeram Baila Comigo e não voltaram a trabalhar juntos. "Queria tanto voltar a fazer uma novela dele que aceitaria mesmo que a personagem não fosse atraente. E veio a Sílvia, que foi um barato", comemora.

                                         Momento de espectadora
Em quase 30 anos de carreira, Natália do Valle participou de apenas um longa-metragem - Pra Frente, Brasil, de Roberto Farias. Bem-humorada, a atriz confessa que já se sentiu meio "esquecida" pelos diretores de cinema. "Mas agora já não sofro mais com isso, porque me direcionei para o teatro e a tevê. Não me sinto tão rejeitada", conforma-se, aos risos. A simpatia pela telona, no entanto, continua intacta. "Já me acostumei a ir assistir aos coleguinhas", minimiza.
No teatro, no entanto, Natália não tem motivos para reclamar. A atriz vive emendando uma peça na outra. Antes de Começar de Novo, ela estava em cartaz com Capitanias Hereditárias, de Miguel Falabella.
A parceria com o diretor, aliás, é uma das mais produtivas da carreira de Natália nos palcos. Ela não só estava no elenco original de A Partilha, que rodou o Brasil durante cinco anos, como foi uma das responsáveis pela existência do texto. Tudo começou nos bastidores da novela O Outro, de 1987, quando Falabella prometeu que escreveria uma peça para ter Natália no elenco. "Passei a perguntar pela peça e ele contava as histórias todas, mas não escrevia. Até que comecei a desconfiar e ele se viu obrigado a escrever alguma coisa, para provar que não era mentira", conta animada a atriz, que participou também de A Vida Passa, continuação de A Partilha.


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